Dando continuidade a séria sobre diretores e suas filmografias, o diretor dessa semana é o britânico Christopher Nolan.
Christopher Nolan nasceu em 1970, em Londres. Começou a fazer filmes caseiros ao sete anos de idade, usando uma câmera Super-8 de seu pai. Mais tarde, se formou em Literatura Britânica na University College London.
Começou sua carreira com o curta Doodlebug, depois dando continuidade a sua filmografia com longa-mentragens:
1.
Following (1998)
O primeiro filme de Christopher Nolan foi esta
produção independente. O filme conta a estória de um “escritor” (o próprio
personagem afirma que ele quer ser escritor, interpretado por Jeremy Theobald)
que está passando por uma crise criativa e decide começar a seguir pessoas
aleatórias que encontra pelas ruas de Londres pra buscar inspiração. Nisso
acaba conhecendo um ladrão chamado Cobb (Alex Hall), com o qual passa a invadir
casas. É visível no filme o baixíssimo orçamento, beirando o amadorismo.
Contudo, o maior mérito do filme é o seu elaborado roteiro, apresentando uma
característica que seria mais bem abordada no filme seguinte de Nolan, que é a
presença de cenas fora da ordem cronológica, cujo sentido na trama só seria
compreendido mais tarde. O fato de o filme ser preto e branco transmite um ar
de Film Noir, dando um clima
misterioso à película. Por mais que o aspecto amador (está entre os filmes
menos caros já feitos) crie certa estranheza, mas certamente o roteiro é bom o
bastante para prender a atenção do espectador ao longo de seus curtos 70
minutos de duração. Um verdadeiro exemplo de filme que é bem mais do que
aparenta.
2.
Amnésia (Memento, 2000)
Com um orçamento consideravelmente maior, o segundo
filme de Nolan é uma obra espetacular e atípica. Baseado num texto escrito pelo irmão de Nolan, Jonathan Nolan (que também participou dos outros filmes dele como roteirista) o filme narra a estória de
Leonard (Guy Pearce), um homem que sofre amnésia anterógrada, uma condição que
o impede de guardar memórias recentes, que está a procura do homem que estuprou
e matou a sua esposa. Para não esquecer sua missão, Leonard anda com uma câmera
polaróide e tatua seus “memorandos” (daí o nome do filme em inglês, memento)
mais importantes em seu corpo. Além do roteiro excelente, o principal destaque
do filme é a edição. O filme é feito com uma cronologia não-linear, de modo que
cada cena pareça isolada inicialmente, mas com o passar do filme se perceba o
sentido da mesma. Possui duas fotografias diferentes: uma em preto e branco e
outra colorida, cada uma com a cronologia diferente. Essa troca entre colorido
e preto e branco, e até mesmo a composição das cenas e a já citada excelente
edição do filme, transmitem muito bem o clima de paranoia e desconfiança do
protagonista. A uma constante dúvida sobre em quem Leonard deve confiar,
fazendo com que o expectador se sinta como ele. Este filme entra naquela
categoria de “filmes que nos deixam com vontade de revê-los imediatamente após
terminarem”, o que torna o filme ainda mais rico e interessante.
3.
Insônia (Insomnia, 2002)
Depois de Amnésia, Nolan dirigiu este suspense de
investigação, sendo até hoje o único filme que Nolan não participou (ao menos
não foi creditado) da construção do roteiro. No filme, um detetive de Los
Angeles, Will Dormer (Al Pacino) e seu parceiro são enviados ao uma pequena
cidade do Alaska para auxiliar a polícia local na investigação de um
assassinato. Porém, algo acaba dando errado. O filme é um remake de um filme
sueco de mesmo nome, lançado em 1997. O filme é bem trabalhado, tem uma direção
competente e uma fotografia que consegue transmitir bem a tensão do roteiro,
tensão essa ampliada pela insônia que o protagonista desenvolve no filme, em
parte pelo fato da cidade estar num período do ano no qual ocorre o “Sol da
meia-noite”, um fenômeno natural que ocorre próximo ao Círculo Polar Ártico,
onde o Sol fica visível 24 horas por dia. Não chega ser um filme espetacular
como outros do diretor (aliás, este é o filme que menos gosto dele), mas ele
conseguiu fazer um trabalho competente e proporcionar um bom filme.
4.
Batman Begins (2005)
Já em seu quarto filme, Nolan recebeu a missão de
fazer um novo filme do Batman, personagem que já estava com o currículo
manchado no cinema pelos filmes Batman Eternamente (1995) e Batman e Robin
(1997). Como o título afirma o filme nos mostra o início da carreira de Bruce
Wayne (Christian Bale) como Batman, mostrando sua infância e a morte dos pais,
o treinamento pela Liga das Sombras, até a sua estreia como Batman. O filme
surpreendeu ao se afastar do clima fantasioso dos filmes do Tim Burton (1989 e
1992) e do clima espalhafatoso dos filmes já citados (e odiados) de Joel Schumacher,
apresentando um clima sombrio, denso e realista, uma abordagem nunca antes
vista em filmes baseados em quadrinhos. Além do mais é claro no filme que o
objetivo é familiarizar o expectador ao Batman, mostrando a sua origem, para
que se possa dar sequencia a estória, pois muito ainda estava por vir. Para o
roteiro do filme, a minissérie “Batman: Ano Um” foi a principal inspiração.
5.
O Grande Truque (The Prestige, 2006)
Após o sucesso de Batman, Nolan fez esse excelente suspense
sobre rivalidade. O filme conta a estória de dois mágicos rivais do final do
século XIX, Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale). A
rivalidade entre os dois é movida pelo desejo de ter o melhor truque, ser o
melhor mágico, criando uma obsessão, principalmente de Angier, que toma rumos
cada vez mais perigosos. Por causa do pano de fundo do filme, além de retratar
muito bem a rivalidade entre os protagonistas, mostra com maestria os truques, desde
a preparação até a execução. Isso é um reflexo de outro aspecto muito bem
trabalhado no filme, que é a arte de enganar o público, que se mostra presente
tanto para com a plateia dos shows quanto para o próprio expectador, pois em
muitos momentos o filme nos mostra detalhes que não percebemos. É como se quem
assiste ao filme estivesse assistindo a um truque. A fotografia do filme é de
principal importância nesse aspecto, se posicionando em diferentes ângulos, ora
revelando os segredos dos truques, ora mantendo-os imperceptíveis. “Vocês estão
olhando atentamente?”.
6.
Batman – O Cavaleiro das Trevas (The
Dark Knight, 2008)
Após o sucesso de Batman Begins, era esperada de
Nolan uma boa continuação ao bom trabalho feito. O resultado entregue foi um
filme espetacular, considerado por muitos (inclusive eu) como o melhor filme de
super-herói já feito e um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Passados
dois anos do primeiro filme, Batman está decidido em acabar com a criminalidade
de Gothan. Para isso, ele e o Tenente Gordon (Gary Oldman) decidem se aliar ao
jovem e dedicado promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart). Porém, um criminoso
louco e anárquico, conhecido apenas como Coringa (Heath Leadger) está decidido
a implantar o caos em Gothan. Superior em todos os aspectos ao primeiro filme,
O Cavaleiro das Trevas é tenso, possui um fotografia impecável, que garante
excelentes cenas de ação, com longas sequências de tirar o fôlego. O roteiro é
desenvolvido de forma primorosa, fazendo com que nenhuma cena no filme pareça
gratuita ou desnecessária, e assim como no primeiro filme, algumas HQ’s
serviram de base para o roteiro, nesse caso “O Longo Dia das Bruxas” e “A Piada
Mortal”. E o que falar do Coringa? Sem dúvida o destaque do filme, com Heath
Leadger numa atuação brilhante, mostrando com perfeição toda a loucura e
imprevisibilidade do personagem, em minha opinião, o melhor Coringa já
representado no cinema. Sem dúvida, merecidíssimo o Oscar póstumo concedido ao
ator, que infelizmente faleceu antes da estreia do filme. A trilha-sonora de
Hans Zimmer é excelente, refletindo com exatidão o clima do filme, com destaque
para o tema do Coringa, que consegue ser tão tensa e insana quanto o
personagem. O Cavaleiro das Trevas é, pra mim, a obra-prima de Christopher
Nolan. Um obra excepcional e muito recomendada por mim.
7.
A Origem (Inception, 2010)
Em seu sétimo filme, Nolan fez uma Ficção Científica
sobre sonhos e camadas de inconsciente. Um grupo de “ladrões de sonhos”,
liderados por Cobb, interpretado por Leonardo DiCaprio (O nome do personagem é
uma referência a um personagem de Following), são contratados por um poderoso
empresário (Ken Watanabe) para fazerem uma inserção (colocar uma ideia no
subconsciente de alguém) no filho e herdeiro (Cillian Murphy) de um rival, algo
considerado impossível. O filme trabalha com vários conceitos complexos, tais
quais a exploração do subconsciente e realidade x fantasia, porém, o estilo
narrativo didático, que explica tudo, não deixa a trama confusa. Particularmente,
não gosto muito desse estilo de narrativa, mas neste filme não chega a
incomodar. Além disso, apesar do aspecto de ficção científica, o filme funciona
mais como um Heist Movie (Filmes de
Assalto), mostrando toda a base já estabelecida nesse subgênero, como o
recrutamento de uma equipe, cada qual com sua função, além da apresentação de
um novato nesse mundo, no caso Ariadne (Ellen Page), a arquiteta da equipe
(responsável por construir os cenários para o sonho), que serve de
representação do expectador no filme, para qual possa ser explicada as normas e
regras desse mundo. Um ponto a se destacar é a excelente trilha-sonora de Hans
Zimmer. Este é um exemplo claro daqueles filmes “ame ou odeie”, o que ficou
evidente nas críticas do filme. Quanto a mim, faço parte do filme que gosta do
filme, pois apesar de possuir suas falhas como ficção científica, continua
sendo uma excelente obra de entretenimento, com boas atuações, boas ideias e
toda a ação e dificuldades típicas de um Heist
movie.
8.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
(The Dark Knight Rises, 2012)
No aguardado fechamento da trilogia do Batman, Nolan
não se preocupou em fazê-lo melhor que o segundo filme, e sim em dar uma
conclusão à estória, que como é dito por muitos, pode ser facilmente vista como
um longo filme de mais de 6 horas. No filme, após os acontecimentos de O
Cavaleiro das Trevas, o Batman desaparece por 10 anos, quando um grupo
terrorista remanescente da Liga das Sombras, liderados por Bane (Tom Hardy),
obrigam Bruce a sair da aposentadoria, retorno esse também auxiliado por uma
ladra chamada Selina Kyle (Anne Hathaway). Como o título do filme afirma, o
foco do mesmo é a queda e ascensão do Homem-Morcego, que são bem trabalhados
por Nolan. Acompanhamos ao longo do filme a queda de tudo relacionado a Bruce
até o fundo do poço só para que depois possamos acompanhar o gradual
ressurgimento de Batman, pois como é bem dito no filme: “Por que caímos? Para
que possamos nos reerguer”. Além disso, o filme tem outros destaques, como o
policial John Blake (Joseph Gordon-Levitt), servindo quase que como um sidekick
ao Batman, e Bane, o vilão do filme, com o seu porte imponente e autoritário e
sua voz estranhamente ameaçadora. Uma épica conclusão para uma trilogia
espetacular. Assim como em Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas, uma minissérie
de HQ’s serviu de inspiração para o roteiro do filme, neste caso, A Queda do
Morcego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário