sábado, 31 de maio de 2014

Quentin Tarantino

Dando continuidade a nossa série sobre diretores, temos nada mais, nada menos que Quentin Tarantino, o meu diretor favorito. Idolatrado por muitos cinéfilos, é considerado o grande expoente do cinema independente americano dos anos 90.
Nascido em 1963 no Tennessee, mudou-se para Los Angeles bem cedo, onde trabalhou como balconista na Video Archives, uma famosa videolocadora da cidade, e fez atuação na Allen Garfield's Actors' Shelter, porém decidiu se dedicar a escrever roteiros. Depois de ter vendido 2 roteiros, Amor à Queima Roupa (1993, dir: Tony Scott) e Assassinos por Natureza (1994, dir: Oliver Stone), conseguiu dinheiro o suficiente para bancar seu primeiro filme, com a ajuda de Lawrence Bender. É com grande prazer que lhes apresento os filmes deste gênio da Sétima Arte.


1.     Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992)


Estreia de Quentin Tarantino no cinema como diretor, com um filme considerado um dos melhores Heist movies da história. O filme conta a estória de um grupo de assaltantes (com codinomes de cores) contratados para realizar um assalto a uma joalheria, porém as coisas dão muito erradas e os assaltantes tentam entender o que deu errado. Já em seu primeiro filme, o diretor mostra várias de suas futuras características marcantes, como os diálogos elaborados, referências a Cultura Pop e trilha sonora excepcional, sendo destaque nesse filme Little Green Bag, do The George Baker Selection, e Stuck in the Middle with You, do Stealers Wheel, ambas apresentadas em cenas importantes, além do já famoso inicio do filme, que começa com uma tese, dita pelo próprio Tarantino, da interpretação que o próprio tem para a famosa “Like a Virgin”, sucesso da Madonna. A edição não linear do filme é excelente, como se nos mostrasse com “flashbacks” tudo o que aconteceu antes do dito assalto. Destaque de atuação para Michael Madsen, com o seu insano Mr. Blonde. Um filme bem divertido e com qualidade técnica excepcional para um filme de estreia, que após o lançamento de Pulp Fiction, viria a se tornar um clássico Cult.

2.     Pulp Fiction (1994)


Se já em seu primeiro filme, Tarantino conseguiu em segundo filme, levar um ator ao grande público (Samuel L. Jackson) e ressuscitar a carreira de outro (John Travolta). O filme é uma compilação de várias histórias relacionadas entre si por compartilharem os mesmos personagens: Os assassinos de aluguel Vincent Veja (Travolta) e Jules Winnfield (Jackson), o chefe deles, Marsellus Wallace (Ving Rhames), sua esposa Mia Wallace (Uma Thurman) e um pugilista em dívida com Wallace, Butch Coolidge (Bruce Wilis). Na minha opinião, esta é a obra-prima de Quentin Tarantino, pelo menos o meu filme favorito dele, possuindo inúmeros pontos de destaque, começando com o roteiro espetacular, que rendeu o Oscar a Tarantino e Roger Avary, contando várias estórias com acontecimentos quase surreais e hilários, com sua violência banalizada e caricata, além dos diálogos impecáveis de seus personagens verborrágicos. E que personagens. Todos os já citados acima são excelentes, mas com destaque a dupla Vincent e Jules, não atoa ambos os atores foram indicados ao Oscar. A edição do filme segue uma estrutura não linear, assim como Cães de Aluguel, mas dessa vez sem quase nenhuma ordem cronológica. A fotografia “suja” do filme dá o aspecto de “pulp fiction” (revistinhas baratas feitas com papel de baixa qualidade, com histórias absurdas até) do filme, também possuindo toda uma estética underground típica de cinema europeu. Novamente, a trilha-sonora é memorável, com destaque para Misirlou, de Dick Dale, conhecida como o tema do filme. Assim como todos os outros filmes do Tarantino, recomendo muito a procura de suas respectivas trilhas sonoras. Enfim, não faltam elogios para este filme.

3.     Jackie Brown (1997)


Terceiro filme de Quentin e até hoje o único com um roteiro não original, adaptado do livro Rum Punch, de Elmore Leonard. O filme narra a estória de Jackie Brown (Pam Grier), uma aeromoça de companhia aérea vagabunda mexicana, que também transporta dinheiro do México para os EUA para Ordell Robbie (Samuel L. Jackson), um traficante de armas de Los Angeles. Porém, ao ser pega pela policia, que a tenta usar para chegar até Ordell, Jackie decide fazer um plano, com a ajuda do agente de fianças Max Cherry (Robert Forster), para passar a perna em todos. O filme nada mais é do que uma grande homenagem do Tarantino aos filmes Blaxploitation dos anos 70 e também a própria Pam Grier, que protagonizou vários desses filmes e teve a carreira revitalizada por este filme, junto com Robert Forster, que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. O filme também conta com boas atuações do já citado Samuel L. Jackson, Robert De Niro, Bridget Fonda e Michael Keaton. Este é um filme um tanto quanto esquecido e até subestimado do diretor, contudo, é um bom filme e não falta em qualidade comparado aos outros filmes do diretor.

4.     Kill Bill – Vol. 1 (2003)


Em seu quarto filme, Tarantino fez uma ode a Cultura Pop, com uma estória sobre vingança. Conta a estória de uma mulher, apenas conhecida como A Noiva (Uma Thurman), que após ter sido traída pela sua antiga equipe, o Deadly Vipers Assassination Squad (Esquadrão Assassino das Víboras Mortais), ter sido espancada e entrado em coma por quatro anos, ela acorda do coma com apenas uma missão: conseguir a sua vingança e matar Bill. Claramente o filme mais nerd do diretor, aqui ele homenageia principalmente os filmes Wuxia (filmes de kung fu chineses com elementos de fantasia), filmes de Samurai, Western Spaghetti, filmes Trash, Animes (destaque para a maravilhosa sequência que explica a origem de O-ren Ishii) e às Grindhouses, além de inúmeras referências à Cultura Pop (o filme já começa com um “antigo provérbio Klingon”). A edição é excepcional, seguindo o modelo fora de ordem cronológica dos outros filmes, e com a trama dividida em capítulos. A fotografia do filme transmite bem o aspecto das homenagens, mas o grande destaque do filme é sem dúvida a sua maravilhosa trilha-sonora, que vão desde Nancy Sinatra com Bang Bang (My Baby Shot me Down) até Battle Without Honor or Humanity, tido como o tema principal do filme. Sem dúvida, o filme mais divertido de Tarantino e que me fez até hoje ser louco pra ter uma Hattori Hanzo.

5.     Kill Bill – Vol. 2 (2004)


Quinto filme e a única continuação da carreira de Tarantino. Após os acontecimentos do filme anterior, A Noiva continua em sua caçada a Bill e conquistar a sua “blood satisfaction” (satisfação sangrenta), ao mesmo tempo em que conhecemos mais do seu passado. Planejado como um filme só junto com Vol. 1, no entanto, é impressionante como os filmes conseguem ser bem diferentes. Enquanto o primeiro filme é quase um anime live-action, o segundo já conta com bem menos ação, mas com um aspecto mais próximo ao Western. Em minha opinião, o grande destaque do filme é o segmento que mostra o treinamento da Noiva com o mítico Pai Mei. Em termos visuais, é bem similar ao filme anterior, com exceção do dito segmento do Pai Mei, que simula muito bem toda a fotografia e direção dos filmes Wuxia. Um excelente filme, que por mais que tenha o ritmo diferente do primeiro Kill Bill, cumpre o seu papel de sequência, completando essa grande estória.

6.     À Prova de Morte (Death Proof, 2007)


Sexto filme do diretor, sendo que este filme faz parte do Grindhouse, projeto de autoria do Tarantino e Robert Rodriguez que presta homenagem as Grindhouses dos anos 70, cinemas com filmes exploitation e proibidos para menores. O filme tem como personagem principal Dublê Mike (Kurt Russell), um dublê psicopata e misógino que persegue mulheres e as mata com seu carro “à prova de morte”. Como já citado, o filme é uma homenagem aos filmes exploitation exibidos nas Grindhouses, aos filmes slasher (filmes de assassinos psicopatas, popularizados por Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Pânico) e aos filmes Giallo (filmes de terror italianos da década 70, com elementos de mistério e erotismo). O clima trash típico desses filmes é muito bem simulado no filme, com uma edição bagunçada, erros de continuidade e trama confusa, emulando o fato de que as vezes eram colados rolos de filmes diferentes, o que confundiam os espectadores. Se levar em conta que todas essas falhas são propositais e fazem parte da proposta do filme, pode-se considerar este como um trash muito bom, que nos mostra a versatilidade do diretor.

7.     Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009)


Sétimo e provavelmente mais popular filme do Tarantino, Bastardos Inglórios é a visão do diretor sobre a Segunda Guerra Mundial. O filme conta estória de dois planos, cujo objetivo é incendiar um cinema cheio de nazistas, que acabam coincidindo. O primeiro de uma jovem francesa judia, chamada Shosanna (Mélanie Laurent), que teve sua família assassinada a mando do Coronel Hans Landa (Christoph Waltz) e que vê essa como uma oportunidade de vingança. O segundo é de um grupo de soldados americanos judeus caçadores de nazistas, conhecidos como Bastardos, liderados pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt). Como já dito, o filme se trata de uma reinvenção dos filmes sobre nazismo, pela primeira vez tratando os judeus como caçadores ao invés de caçados. Como nos outros filmes, os diálogos são excelentes, com destaque para o fato de a maior parte do filme ser falada em alemão e francês, respeitando as localidades. Aqui foi utilizada uma edição mais tradicional no lugar da estrutura não linear dos filmes anteriores, que mesmo assim continua excelente. A fotografia é excelente, como de praxe nas obras do Tarantino. A trilha-sonora é muito boa também, com destaque para uma versão alternativa de Für Elise, de Beethoven, tocada com ares de Western. Mas sem duvida nenhuma, o maior destaque é Hans Landa, interpretação que rendeu o Oscar para Christoph Waltz, que pode ser considerado um dos melhores personagens que o diretor já criou. Waltz rouba todas as cenas em que aparece, com seu Sherlock alemão. Nunca antes um nazista foi tão carismático.

8.     Django Livre (Django Unchained, 2012)



O oitavo e mais recente filme do diretor não fica pra trás em qualidade. Acompanhamos a estória de Django (Jamie Foxx), um escravo libertado pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz), que o torna um caçador de recompensas também. Após umas recompensas conquistadas, Schultz decide ajudar Django a resgatar Broomhilde (Kerry Washington), esposa de Django e escrava na plantação de cana Candyland, cujo dono é Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Como já ficou claro nos outros textos, Tarantino é um grande fã de Western Spaghetti (assim como eu) e este filme é a sua grande homenagem ao gênero. Começando com o nome do protagonista, uma clara referência ao clássico Django, de 1966 (inclusive o Django original, Franco Nero, faz uma ponta no filme). Esta apenas uma das inúmeras referências ao gênero, que incluem a fotografia do filme, os planos amplos e os close-ups. Além disso, o trio principal (Foxx, Waltz e DiCaprio) dão um show de atuação. Todos estão excelentes, mas o destaque é novamente de Waltz, que ganhou segundo Oscar por este filme. Não tem como não gostar de Schultz, apesar de sua moral duvidosa em algumas partes. Ele serve quase que como uma personificação dos espectadores ao assistirem naqueles filmes sobre escravidão, que muitas vezes querem entrar no filme e impedir as injustiças. Não tem deleite maior do que ver justamente isso em Django Livre.

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